Pertencer a lado nenhum
dá-te a liberdade
de ser mais que um.
Ter diferentes casas,
diferentes caras,
trocar o norte pelo sul
sem ninguém se aperceber
que tu estás só,
a tentar pertencer.
O que é uma folha de papel em branco? Não é nada mais que intenções, e intenções leva-as o vento. Mas quando a enches com as tuas palavras, torna-se mensagem. E eu vou-me habituando às tuas palavras.Já sei que umas vezes, como lágrimas, as palavras gotejam dos teus olhos. Aí bebo-as e sinto a tua angústia invadir-me. Até dói! Sabes, outras vezes as tuas palavras parecem-se com ternos sorrisos e então fico a sorrir para elas. Descubro que letra a letra constróis sonhos,como um operário, tijolo a tijolo, constrói palácios. Depois os teus sonhos povoam os palácios, de príncipes, fadas e princesas. E os meus sonhos perdem-se neles, como se perdem os teus olhos. Às vezes as tuas palavras são labirintos onde me encontro e me perco e outras vezes sinto as tuas palavras como murmúrios e deixo-me levar no teu navio de velas brancas que parte do cais por entre a nebelina que cobre o mar. Olha, hoje fui ver o rio e levei comigo as tuas palavras. Misturei-as com a água que corria para o mar, com os sonhos e as lágrimas, com os olhares e os sorrisos, com os murmúrios e a ternura que, como tão bem sabes, são a água que desagua no oceano. Bom, e a água do rio no mar são também as tuas palavras! Olha, deixei-me ficar e vi as tuas palavras mágicas misturadas na espuma das ondas. Mas outras palavras tuas houve que não dei ao rio. Acariciei-as apenas com as minhas mãos, e fiquei a ouvir os seus segredos. Sabes, é que as tuas palavras também se podem acariciar. Depois essas palavras sentaram-se ao meu lado, a sorrir e a ver as outras que partiam naquele navio de velas brancas. Luis Vicente
"Navio que partes para longe, Por que é que, ao contrário dos outros, Não fico, depois de desapareceres, com saudades de ti? Porque quando te não vejo, deixaste de existir. E se se tem saudades do que não existe, Sinto-a em relação a cousa nenhuma; Não é do navio, é de nós, que sentimos saudade. " Alberto Caeiro
O que é uma folha de papel em branco? Não é nada mais que intenções, e intenções leva-as o vento. Mas quando a enches com as tuas palavras, torna-se mensagem. E eu vou-me habituando às tuas palavras.Já sei que umas vezes, como lágrimas, as palavras gotejam dos teus olhos. Aí bebo-as e sinto a tua angústia invadir-me. Até dói! Sabes, outras vezes as tuas palavras parecem-se com ternos sorrisos e então fico a sorrir para elas.
ResponderEliminarDescubro que letra a letra constróis sonhos,como um operário, tijolo a tijolo, constrói palácios. Depois os teus sonhos povoam os palácios, de príncipes, fadas e princesas. E os meus sonhos perdem-se neles, como se perdem os teus olhos.
Às vezes as tuas palavras são labirintos onde me encontro e me perco e outras vezes sinto as tuas palavras como murmúrios e deixo-me levar no teu navio de velas brancas que parte do cais por entre a nebelina que cobre o mar.
Olha, hoje fui ver o rio e levei comigo as tuas palavras. Misturei-as com a água que corria para o mar, com os sonhos e as lágrimas, com os olhares e os sorrisos, com os murmúrios e a ternura que, como tão bem sabes, são a água que desagua no oceano. Bom, e a água do rio no mar são também as tuas palavras!
Olha, deixei-me ficar e vi as tuas palavras mágicas misturadas na espuma das ondas.
Mas outras palavras tuas houve que não dei ao rio. Acariciei-as apenas com as minhas mãos, e fiquei a ouvir os seus segredos.
Sabes, é que as tuas palavras também se podem acariciar.
Depois essas palavras sentaram-se ao meu lado, a sorrir e a ver as outras que partiam naquele navio de velas brancas.
Luis Vicente
"Navio que partes para longe,
ResponderEliminarPor que é que, ao contrário dos outros,
Não fico, depois de desapareceres, com saudades de ti?
Porque quando te não vejo, deixaste de existir.
E se se tem saudades do que não existe,
Sinto-a em relação a cousa nenhuma;
Não é do navio, é de nós, que sentimos saudade. "
Alberto Caeiro