20120528

Os homens e os sacos.


Comigo não tenho mais do que o que trago na minha cabeça. Do inútil ao indispensável, do preciso ao completamente descabido, do sem sentido ao salva-vidas. Trago tudo quanto cabe e ainda há, e sempre haverá, espaço para mais. Trago também um monte de balelas para ir dizendo, umas quantas associações que ouvi dizer fazerem sentido, mesmo não as sentindo. Os meus sorrisos programados, os meus choros estipulados. E agora sou um monstro da mecânica. E não sou assim tão diferente de ti. Trago também um jeito de andar, que os meus pais se orgulham de me ter dado, uma respiração pesada que faz com que não tenha alguém que durma comigo. Só por isso. Umas mãos frias, e dizem que tenho o coração quente, e eu acredito, porque quente é bom, e eu quero ter um coração bom. Tenho umas quantas músicas a ecoar na cabeça e que me salvam das introspeções durante o banho da manhã. A água quente aquece-me as mãos e aí já não consigo esconder o meu coração frio. Este sou eu, a sentir-me mais sozinho do que nunca e tenho tantas mãos para dar. Mãos fechadas em punho, prontas a lutar contra algo que não seja elas próprias. Uma mão lava a outra. Uma mão ataca a outra, e estas guerras raramente têm fim, pelo menos dentro de mim. Eu contra mim, e o meu coração frio a rir-se, outro tipo de guerra fria. Mas isto são só mais devaneios, e o meu contra-ataque tem falta de homem.  Não me deixo morrer, mas claro, como todos os que voltam da guerra, o corpo nunca é o mesmo.

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